Este blog foi feito com o objetivo de resgatar a história do meu bairro e assim conhecer um pouco mais de mim, da minha própria identidade e de minhas raízes. Aqui você encontrará um pouco do contexto histórico do bairro de Plataforma e da Suburbana desde suas origens até os dias atuais.
O livro Novos Alagados, do professor José Eduardo foi a minha principal fonte de pesquisa. Obrigada professor, pelo belíssimo trabalho.
Se você conhece Plataforma. com certeza sentirá até o cheiro da maré e o ventinho gostoso da Enseada do Cabrito.
Vem comigo.
ENTREVISTAS
As Enrevistas
As entrevistas foram colhidas no dia 13 de janeiro com dois moradores antigos e dois intermediários; Três homems e uma mulher. Os mesmos acharam melhor não revelar os nomes, então os chamarei de Senhor X e Senhora Y.
O Senhor X, atualmente com 75 anos disse que veio de Maragogipe em 1968 em busca de emprego. Conheceu o bairro de Plataforma através de conterrâneos que aqui já habitavam. Ele conta que ficou encantado com a proximidade de Plataforma com sua cidade Natal. Ele se sentia em casa, podia comer um peixinho fresco, e adorava a atravessia de barco, mesmo tendo consiciência de que era um meio de transporte perigoso. Não era como hoje. Era preciso passar pela água até chegar a canoa, às vezes, ficava todo molhado. Quando os filhos começaram a estudar o Ensino Médio, era preciso mandar para a Ribeira porque no bairro não tinha essa modalidade de ensino. Em tempo de chuva ele não contava as vezes que os filhos perdiam o material escolar porque molhava tudo com a água do mar e com a própria chuva. Hoje ele tá aposentado e fica triste ao ver como tudo tá tão mudado. Plataforma não tem mais aquela tranquilidade do interior.
entrevistadora: o senhor fala sobre a tranquilidade da rua, mudou muito?
Senhor X : sim, chegou muta gente de fora, veio gente de todo tipo, aqui tem usuarios de droga, bandidos. Ficou sempre com o portão trancado, depois que o governo fez as casinhas de pombo lá em cima, ficou tudo mais díficil. (as casas de pombo se refere as casas populares que o governo destribuiu )
Entrevistadora: e seus netos, brincam na rua?
Senhor X: brincam por que a mãe é teimosa, eu não gosto.
Senhora y, tem 71 anos e veio da Ilha de Itaparica com 15 anos, devido a morte da mãe. Foi morar com uma irmã, casou e veio para Plataforma com 22 anos. Ele conta como era as viajens a Pirajá todos os sábados para comprar carne e diz ter muita saudade da bica. "era uma coisa divina, agente tinha aquilo como uma coisa santa, sagrada mesmo. Parecia que Deus tava nos estendendo as mãos, nos dando aquela água tão pura. Quando agente voltava tudo cansada de Prajá, ía cuidar da carne alí mesmo e os meninos ficavam tomando banho. Até hoje, ninguém sabe de onde vem. Com o passar do tempo o povo deixou de cuidar da bica. Foi só chegar água encanada que ficou tudo àtoa. Os pescador começaram a subir pra tratar peixe. Não limpava, aí começou a feder, a aparecer rato, até mesmo úrubu. Os marido não queriam mais que as mulheres fossem pra bicar, por que tava sempre cheio de homem, os pescador. Dá saudade daqueles, tempos, das mulheres tudo lavando roupa, conversando.." Ela nos contou também que naquele tempo o parto era feito por parteira e como não havia hospital nem posto de saúde, os mais velhos era quem cuidava dos doentes com chás, folhas e rezas. Quando sua filha de 5 meses faleceu, ela teve que atravessar de canõa com o bebê morto embrulhado no colo. O enterro de hoje é igual antigamente, as pessoas saem a pé acompanhando o cortejo fúnebre até o cemitério que fica no Alto do Luso. Quando tem enterro o trânsito fica todo lento
Entrevistadora; A senhora disse que trouxe sua filha morta no colo, como foi isso?
Senhora Y; ela morreu no hospital, e não tinha como trazer o corpo, como meu marido tava trabalhando, eu me responsabilizei em trazer, eu queria enterrar ela aqui no bairro mesmo. Eu não podia dizer na lancha que ela tava morta.
O professor Luciano conta que seu avô veio do Rio Vemelho. "Ele vinha veranear aqui e conheceu minha vó, com quem se casou e ficou morando num sítio aqui mesmo. Isso aqui era lindo, vivia cheio de turista, principalmente no verão. Tinha gente que vinha para se tratar de doenças, para paquerar as meninas, para se sentir mais perto da natureza. Quando eu era menino, morava na rua Chile, era uma rua linda, tranquila, agente brincava de fura-pé, de badogue, de rulimã. Eu adorava os sábados, era dia de ir para Pirajá. Era um monte de menino correndo, pegando manga no pé, chupando umbú... Agente cansava, mas todo sábado acordava de madrugada por que as mulheres queriam chegar cedo para comprar a carne bem fresquinha."
Luciano falou sobre a importância histórica que Plataforma tem e que as pessoas desconhecem. "É quase que impossível você encontrar um adolescente que diz ter orgulho de morar em Plataforma, é muito preconceito..." Ele lembra de um fato importante em Plataforma que era o Carnaval, "antigamente o carnaval de Plataforma tinha trio, artista famoso... foi por isso que começou o Pierrot daqui, o carnaval daqui tinha força.
Geográfo Claudio Xavier.
"Eu nasci em 1979, cresci na Rua Chile e tô aqui até hoje. Já vi muitos amigos melhorar de vida e ir embora, eu não, eu gosto daqui. Aqui está toda a minha identidade, meus amigos, minha familia. Sei que hoje Plataforma tá abandonada, mais ainda existem muitos lugares bonitos. O Mirante de Plataforma mesmo é lindo; a Enseada do Cabrito, aquilo é bonito demais".
Cláudio disse que não brincava no carnaval por que o pai era muito rígido, mas que ficava olhando os Pierrot passar, por que quase todos os integrantes era da rua Chile. Até hoje é assim, nem é carnaval mas você sempre vê um menino correndo com uma máscara de Pierrot.
"Tempos bons, sinto saudade"
Vale lembrar aqui, que nenhum dos entrevistados se propuseram a falar sobre o candomblé. Claudio e Luciano disseram que existe ums terreiros no São João, mas que eles não sabem falar sobre a história e nem conhecem ninguém do camdomblé.
O Senhor X disse que saia o dia todo para trabalhar, que conhecia apenas os vizinhos mais próximos. Sabe que tem um terreiro pequeno no São João, mas que nunca ouviu falar nada sobre seus integrantes. Já a Senhora Y disse que conheceu algumas pessoas mas que não queria falar sobre o assunto.